Se até santificado por uma igreja em San Francisco John Coltrane (1926-1967) foi, dá para imaginar a quantidade de vezes em que seu nome é lembrado no mundo musical laico. No dia em que o maior instrumentista do Século XX completaria 90 anos, o Mala da Lista interrompe seu transe para selecionar os cinco melhores versos sobre ele em canções de outrem.
5-The Roots - "Writers Block" (1993)
John Coltrane and chinese food is my date for the night
4-Lucinda Williams - "Righteously" (2003)
Be my lover don't play no game/Just play me John Coltrane
3-Black Star - "Astronomy (8th Light)" (1998)
I love rockin tracks like John Coltrane loves Naima
2-Gil Scott-Heron – “Lady Day and John Coltrane” (1971)
Could you
call on Lady Day/Could you call on John Coltrane/Now ‘cause they’ll/They’ll
wash your troubles away
1-Cowboy Junkies - "Sun comes up, it's tuesday morning" (1990)
And anyways I'd rather listen to Coltrane/Than go through all that shit again
Tive insônia esta noite. Como quase sempre ocorre
nestes casos, a cabeça foi ocupada por sinapses musicais, uma estratégia
infantilmente falível de atrair o sono. O mesmo erro de sempre. Quando me dei
por desperto esta manhã, permanecia a indagação quem-dos-vivos-é-maior-que-Bowie?-caracas-talvez-só-o-Paul-McCartney,
logo substituída por outra, quais-afinal-são-os-10-melhores-discos-dele-caceta-?
Passava das oito quando meu ilustre hóspede Dani Tiger
acordou, para me dizer: “vaya manera de empezar la semana: ha muerto Bowie”.
Se eu já não tivesse passado um mês dividindo quarto - e, a cada três noites,
cama – com ele, a aparição de sua figura descabelada metida em um pijama de
tigre tamanho XL, anunciando, incrédulo, a morte da pessoa sobre a qual eu
estava matutando naquele exato momento, provavelmente pensaria estar em meio
a um roteiro de intrigas para Fellini filmar. Teria Bowie gasto sua derradeira noite emitindo despedidas codificadas pelo mundo afora?
Depois de um café da manhã surrealista, em que nos
alternamos entre nos lamuriar sobre a perda e ser interrogados a respeito de nossas preferências de “Star Wars” pelo habitante de cinco anos e meio da casa,
não restou mais alternativa a não ser respirar fundo, abrir o computador (que,
de luto, se recusou a funcionar em uma primeira tentativa) e resolver aquela
segunda indagação.
10-“Lodger” (1979)
O pulo do gato da genialidade transformadora de
Bowie não foi apenas ser “oportunista no bom sentido” e, sob a desclupa de criar uma nova persona, colar nos caras certos
nas horas perfeitas – de Lou Reed a Trent Reznor, passando por Luther Vandross
e Robert Fripp - ou em inventar algo novo a cada disco; o truque oculto residia
também em sempre antecipar a seguinte fase em sinais emitidos pela anterior.
Apesar de encerrar conceitualmente a inigualável
“trilogia de Berlim”, quando trabalhou na cidade ao lado de Eno e mergulhou na
obra de Kraftwerk, Neu! e outros alemães, “Lodger” foi produzido na verdade entre
Montreux e Nova York. Ainda que bastante experimental e krautroqueiro nos
arranjos, ia mais direto ao assunto que seus antecessores alemães. Uma ponte,
portanto, para a fase mais pop que viria depois.
9-“Let’s Dance” (1983) Aos 35 anos, tendo já feito de um tudo nessa vida e
lançado a maior sequência de dez álbuns da história da música pop, Bowie achava
que merecia um pouco de sucesso. Nile Rodgers era o homem ideal para
cuidar de ler a criatividade de seu novo patrão e rescrevê-la em hits. E eles vieram,
alegres: “Let’s Dance”, “Modern Love”, China Girl”.
8-“Aladdin Sane” (1973) Uma fantástica continuação para “Ziggy Stardust”, mas com o estranho toque extra de um pianista de jazz, Mike Garson. Chama a atenção também o início do flerte do autor com o uso de um canto mais soul, mais de crooner mesmo, que ele exploraria sobretudo a partir de “Young Americans”, de 1975, e com força total nos últimos lançamentos.
7-“Diamond Dogs” (1974) Sim, a etapa berlinense seria a propriamente
futurista de sua carreira. Mas, ao traçar um álbum conceitual baseado em George
Orwell em meio a atmosferas sinistras e guitarras sujas, Bowie encontrava uma
maneira de antever seus próprios próximos passos – mesmo que, no meio do
caminho, ainda houvesse um disco “negro” por conceber, “Young Americans”.
6-“Hunky Dory”
(1971) Adeus hippies espaciais, olá seres sexualmente confusos.
Nascia o glam rock, que os detratores mais mal-humorados poderiam condenar como
um circo vazio, restrito apenas a imagem e atitude... não fossem “Oh You Prety
Things”, “Changes”, “Quicksand” e, acima de todas, “Life on Mars?”
canções tão transcendentais.
5-“Heroes” (1977) O auge da era Berlim, coroado com um hino de
fazer um robô chorar (“Heroes”), mas ao mesmo tempo aberto a experimentos
hipnóticos nunca vistos em terras não germânicas, como “V-2 Schneider”. Ah, e as
instrumentais fantasmagóricas. Sense of Doubt”, “Neukoln”... impossível passar
incólume por aquilo. Se algum alienígena caísse sobre a terra à época – como
ocorria com o personagem vivido pelo próprio Bowie no filme que estrelara pouco
antes, “The Man Who Fell From Earth” – e alguém lhe entregasse este LP, ele ficaria
bastante satisfeito com a audição.
4-“Station to Station”
(1976) Esquelético como um zumbi - assumia o personagem "Thin White Duke" e cheirava o que encontrava pela frente -, Bowie quis levar o funk
de “Young Americans” mais além e claro, criou outro álbum inimitável,
simultaneamente dançante, elegante e tenso. Coloque “Stay” agora mesmo em todo
volume e concorde.
3-“Low” (1977) Quem se não ele para traduzir ao paradigma
anglo-americano o que de melhor a alemãzada vinha tramando? Começava, três anos
antes do previsto, a revolução estética do início dos anos 80. Não era pouca
ambição: rompimento com a escala de blues, a preferência de sintetizadores a
guitarras - ou o uso delas como texturas - e a busca incansável por belezas melancólicas. A espetacular “Warsawa”,
a mais visual de todas as composições bowieanas, era como o réquiem para tudo o
que ele criara até então. Em uma entrevista que fiz com a banda londrina Wire
em 2009, o baixista Graham Lewis me disse: “'Low' e 'Heroes' são trabalhos
incríveis! Eles [Bowie e Eno] estavam fazendo arte. Era a revolução. Eles, como
nós, queriam mudar as coisas. Tudo não precisava ser do jeito que vinha sendo,
se não gostássemos do que já existia".
2-“The Rise and
Fall of Ziggy Stadust and the Spider from Mars” (1972) O disco que sempre será sinônimo de David Bowie. Não
por acaso. Clássicos como “Starman” e “Suffragette City” estão aqui. Todo o conceito do rockstar enquanto ser de outro plano, também. Dê crédito de
uns 50% aos riffs de Mick Ronson, talvez a essência de toda a androginia do
patrão.
1-“Scary
Monsters” (1980) Como Bowie era Bowie, é lógico que ele ia morrer
atirando, soltando um álbum de grande relevância, “Blackstar”, em seu 69º
aniversário, dois dias antes de embarcar rumo a sua oditty espacial. Mas
mesmo se não tivesse produzido nada em décadas, poderíamos ficar tranquilos ao darmos o play em “Scary Monsters”, um ábum que, apesar de seus 36 anos, é tão “atual”
que parece que ainda está por ser lançado. Não tem uma ruim; não tem uma datada; e não tem uma
sequer que não gere um sobressalto de surpresa, se comparada com a anterior - ou
a qualquer outra coisa produzida à época (e depois). Experimente os saltos de “It’s
no Game” a “Up the Hill Backwards”, de “Ashes to Ashes” a “Fashon” ou de “Teenage
Wildlife” a “Scream Like a Baby”. Tudo maravilhosamente estranho, mas
irresistivelmente acessível. Depois disso, só mesmo baixando a guarda do
experimentalismo, pintando o cabelo de loiro e virando popstar com “Let’s Dance”.
Aos
queridos leitores deste blog: o Mala atingiu sua 100ª lista e aproveita o
acontecimento numerológico para entrar em suave hibernação. Em breve vocês saberão
mais a respeito das novas listas, que continuam aqui, loucas para serem
publicadas.
Exemplar da tiragem 1 de "Love Me Do/P.S. I
Love You", cujo lançamento completa 50 anos
hoje (Foto: Beatles-64)
A lista de número 100 do Mala da Lista aparece enquanto o Fim do Mundo
se aproxima, de acordo com o calendário maia. Mas, para a comunidade
internacional de milhões de beatlemaníacos, nada mais importa do que hoje, 5 de
outubro, o 50º aniversário do lançamento do primeiro compacto dos Beatles, editado
no Reino Unido pelo selo Parlophone, ligado à EMI.
Trazendo 2 minutos e 22 segundos de pura magia no lado A com “Love Me
Do” e 2 minutos e seis segundos de encantamento melódico juvenil no lado B com
“P.S. I Love You”, duas autênticas amostras da denominação de origem
Lennon-McCartney - embora mais McCartney do que Lennon –, o début de sete polegadas mudou para
sempre o mundo.
Desde então, além de toda a revolução musical promovida pelos Fab Four, fenômenos típicos do século 20,
como a transformação de personalidades pop em semideuses e em artigos altamente
vendáveis, também ganhariam novas proporções. Algo que se nota não apenas na
infinidade de conteúdo e produtos já produzidos a respeito dos quatro roqueiros
de Liverpool, mas também nas letras de algumas boas canções sobre eles.
Separei cinco destas composições que trazem um ou dois integrantes dos
Beatles como personagens. Menções honrosas para “Jesus Chorou”, dos Racionais
MC’s, e “Assassino”, do astro da no wave gaúcha Tony da Gatorra, ambas
incluindo John Lennon em listagens de pessoas famosas que pregavam a paz.
A seleção com canções sobre a
banda como um todo, e o ranking de faixas nas quais os próprios besouros se
auto-referenciam ou trocam farpas entre si, também bastante promissoras, ficam para
depois.
5-Shelley Plimpton x George
Harrison– “Frank Mills” (1968)
Aqui a menção vai para o Quiet
Beatle, George Harrison: “Ele foi visto pela última vez com seu amigo / Um
baterista, parecido com o George Harrison dos Beatles”. Tema extraído do mítico
espetáculo “Hair”, cuja estreia na Broadway ocorreu em 1968. Os Lemonheads
fizeram versão no bom disco “It’s a Shame About Ray” (1992).
4-Caetano Veloso x John Lennon
e Ringo Starr – “Cambalache” (1969)
Adaptando em grande estilo um velho tango de Enrique Santos Discépolo
(1901-1951), Caetano incluiu referências a dois beatles nos lugares que, na
composição original, eram dedicados ao compositor Igor Stravinsky e ao
astrônomo Luigi Carnera. O resultado ficou assim: “Misturem-se Ringo Starr,Van Don Bosco e La Mignón,Don Chicho e Napoleón,John Lennon e San Martín”. No vídeo abaixo, foi utilizada como trilha
sonora de imagens de manifestação ocorrida este ano em Barcelona.
3-Milton Nascimento x John
Lennon e Paul McCartney – “Para Lennon & McCartney” (1970)
Mesmo sem referência direta (o refrão diz “Mas agora sou cowboy/
Sou do ouro / eu sou vocês”), trata-se
de um “pedaço” de homenagem à genial dupla.
2-Odair José x John Lennon -
“Eu queria ser John Lennon”
“Eu queria ser John Lennon um minuto só / Pra ficar no toca-discos e
você me ouvir”. Eis a sabedoria popular devidamente beatlemaníaca do
veteraníssimo Odair. Com direito à pronúncia “John Lêno”.
1-Devendra Banhart x Paul McCartney e Ringo Starr – “The Beatles”
(2005)
O neohippie meio venezuelano meio americano Devendra se espanta já na
primeira estrofe: “Paul McCartney e Ringo Star são os únicos Beatles no mundo!”.
E é só. Depois ele aperta a tecla sap e recupera uma velha cantiga sobre não
matar o toureiro, e sim o toureiro, mandando também um salve para Donovan e
Marc Bolan.
Assim me apelidou minha irmã, também autora da foto acima, com base no
meu desempenho em um recente passeio de barco.
Eu bem que me esforcei. Mas da tentativa de me estabilizar na proa à
devolução do café da manhã na proa não transcorreram nem 30 minutos.
Ainda com o estômago traumatizado, me faltam palavras para transformar o
episódio em crônica. Resolvi, então, arriscar uma mini-fotonovela baseada nas
dez melhores capas de disco estreladas por artistas a bordo de barcos. Uma "caponovela", mais ou menos.
IMPORTANTE: ler apenas quando em terra firme.
10-The Beach Boys – “Summer Days (And Summer Nights!!)” (1965)
O dia não poderia ter começado melhor; a rapaziada estava animada.
9-Maysa – “Barquinho” (1961)
Havia garotas na tripulação, o que torna tudo muito mais legal.
8-Bow Wow Wow – “See Jungle! See Jungle! Go Join Your Gang, Yeah.
City All Over! Go Ape Crazy” (1981)
Elas não ficaram peladas,
mas uma fez topless.
7-Echo and The Bunnymen – “Ocean Rain” (1984)
A paisagem era de tirar o fôlego.
6-Crosby,
Stills and Nash – “CSN” (1977)
Enfim, sorríamos à toa.
5-Jorge Mautner – “Bomba de Estrelas” (1981)
Até que chegou o embrulho:
ancestral, eterno, torturante. Vi cobras e borboletas, e o reggae dos alto-falantes passou a soar
como um violino tocado com uma espada.
4-David Ackles – “American Gothic” (1972)
Outro se enjoaram, mas nem
de longe como eu. Me isolei.
3-James Taylor – “One Man Dog” (1972)
(Esse aqui pelo menos ainda contava com o cachorro)
2-Speck Mountain – “Speck Mountain” (2006)
Não teve jeito, fui
desembarcado prematuramente no porto mais próximo...
1-Sparks – “Propaganda” (1974)
...e passeios de barco, de agora em diante, só amordaçado.
Kristen Stewart e Robert Pattinson flagrados por paparazzi: playlist para os pombo-vampiros
“Minha vida ficou menor depois que fiquei famoso”.
Ao voltar pela milésima vez, em entrevista coletiva, ao assunto da
traição cometida por sua namorada atriz Kristen Stewart com o diretor Rupert Sanders,
o ator Robert Pattinson resumiu os desabafos entalados nas goela de muitas
celebridades.
Afinal, será que vale mesmo a pena tornar-se famoso a ponto de que as
idas e vindas de nossa vida pessoal sirvam de “conteúdo” para revistas,
jornais, sites, blogs, tuits e semelhantes?
Tão caçados quanto estrelas de Hollywood, popstars assinariam embaixo ao
manifesto improvisado do humilhado vampiro. Na verdade, eles já fizeram isso com
um farto repertório de canções a respeito da hediondez dos paparazzi, ou
simplesmente sobre o quão inconveniente pode ser esta faceta da fama alimentada
pela cultura do sensacionalismo.
Enquanto as feições pálidas de Robert se recuperam do sangue perdido
durante os meses de sucção de privacidade, e Kristin lhe faz ridículas juras
públicas de amor, lanço aqui um Top 10 com as melhores músicas sobre paparazzi,
tabloides e outras pedras no sapato dos famosos.
*“Paparazzi”, de Lady Gaga, é ruim e fica de fora.
10-Queen – “Scandal” (1989)
“Querem tornar sua vida em um freakshow”. Desta forma, o Queen
simultaneamente mandava às favas a imprensa marrom por especular em torno do
divórcio de Brian May e fofocar sobre a saúde de Freddy Marcury, que então já
portava o HIV, mas sem revelá-lo.
9-Racionais MC’s – “A Vítima”
(2002)
Não está entre os clássicos dos Racionais, mas se
enquadrada na categoria de raps do quarteto em que o ouvinte aguarda a próxima
linha como em um relato policial. Edi Rock conta o episódio de quando se
envolveu em um acidente que resultou em vítima fatal, e como a imprensa
explorou os fatos: Virei notícia,
primeira página/ Um paparazzi focalizou a minha lágrima/ Um repórter da Globo me insultou/ Me chamava de assassino, aquilo inflamou/ Tumultuou, nunca vi tanto carniceiro/ Me crucificaram,me julgaram no país inteiro
8-Wire – “12XU” (1977)
No melhor estilo haikai da banda pós-punk inglesa: Te vi em uma revista/ Beijando um cara /Tenho você encurralada.
7-Kanye West – “Flashing Lights” (2007)
O bom clipe, no qual uma gostosa sequestra
Kanye, o amordaça em um porta-malas e o dilacera com uma pá, ajuda a entender.
Segundo a letra, West foi pego no pulo com uma amante por um fotógrafo
sorrateiro: Até que fui clicado por um
paparazzi/ Caramba, estes “niggas” me pegaram/ Eu odeio mais estes “niggas” do
que um nazi.
6-Rush – “Limelight” (1981)
Quase tão comentada quanto os dotes baterísticos de Neil Peart é a sua
total incapacidade de lidar com o assédio dos fãs e com a própria notoriedade. A
fama realmente lhe incomoda e ele, letrista da banda, fez questão de escrever
sobre isso: Escalado para este papel
incomum/ Sem recursos para atuar/ Sem tato suficiente/ Há de se colocar
barreiras /Para permanecer intacto.
5-Michael Jackson – “Leave me Alone” (1987)
Já lá atrás, há 25 anos, Michael lidava com a presença massacrante dos
tablóides. Sendo assim, mesmo que a letra da canção pareça direcionada a uma ex-namorada
que não sai da bota, o clipe - claramente inspirado peor Sledgehammer”, de
Peter Gabriel -, lhe dá esta conotação de fobia sensacionalista. “Stop dogging
me around”, pede Jacko, enquanto dribla manchetes de tablóides e adentra uma
enorme boca com o carrinho de montanha-russa - que caminha por dentro dele
mesmo, como descobrimos ao final.
4-Roberto Silva – “Jornal da
Morte” (1961)
Em uma música na qual figura a estrofe “tresloucada,
seminua, jogou-se do oitavo andar, porque o noivo não comprava maconha para ela
fumar” é difícil uma outra frase se destacar. Mas o sensacionalismo – atingindo
outra espécie de famoso, a dos bicheiros - ainda é melhor descrito em partes
como “um escândalo amoroso, com retratos do casal,
um bicheiro assassinado, em decúbito dorsal”. Samba de autoria de Miguel Gustavo,
regravado em versão pedrada da Nação Zumbi em 2000.
3-Tom Zé, Gilberto Gil, Gal Costa
e os Mutantes – “Parque Industrial” (1968)
Outro cântico verdadeiramente recheado de versos imperdíveis – pudera,
foi escrito por Tom Zé -, e que chega ao ápice com “a revista moralista traz uma
lista dos pecados da vedete”. Para esta releitura no VMB 1999, o time original mudou um pouco: sai Gal e entra Caetano, e Rita representa os Mutantes.
2-David Bowie – “Fame” (1975)
“A fama faz um homem repensar as coisas”. Com vocês, a visão do que era
ser uma celebridade em 1975, por Bowie e seu novo amigo John Lennon. Apresentada em grande estilo no mitológico programa de black music"Soul Train".
1-R.E.M. – “Bad Day” (2003)
Na primeira linha, Michael Stipe já conta que “um serviço de anúncios públicos
me seguiu até em casa outro dia”. Os resmungos vão se acumulando para explodirem
no refrão em tom de súplica aos paparazzi imperdoáveis: It’s been a bad day/ Please don’t take a picture.
Agosto de 1992 ficou conhecido como o mês da explosão do chamado
Movimento dos Caras Pintadas, fenômeno jovem que – obviamente - não foi o
causador direto do impeachment de Fernando Collor de Mello, mas pelo menos
contribuiu em algo.
E, mais do que isso, acabou sendo a última vez em que os politicamente
passivos brasileiros levantaram a bunda da cadeira para protestar, de forma minimamente
contundente e organizada.
De lá para cá, infelizmente pouco mudou em nossa cultura de corrupção, vide
o Mensalão, que começou a ser julgado ontem. O que não impede este blog de
prestar sua homenagem aos 20 anos dos Caras Pintadas com um Top 10 capas de
disco ilustradas pelos... bem, os Caras Pintadas da música.
*Só entram na lista os “maquiados de ocasião”. Ou seja, não valem
artistas que passaram a carreira com a face oculta por cosméticos, como Alice
Cooper, Kiss, King Diamond, Marilyn Manson e os inventores de tudo isso, Secos
& Molhados.
10-Luiz Melodia –
“Retrado do Artista Quando Coisa” (2001)
Alguém precisa avisar Melodia que seu talento e
originalidade se garantem e dispensam qualquer forçação de barra como esta foto
(e este título terrível).
9-The Kinks –
“Sleepwalker” (1977)
Tampouco está à altura da importância dos Kinks esta
imersão de Ray Davies pelo mundo dos “Sombras”.
8-Ney Matogrosso –
“Destino de Aventureiro” (1984)
A coisa começa a melhorar aqui, com a mistura de suor,
purpurina e batom de nosso herói glam. Extravagância em encartes é com ele,
aliás.
7-Frank Zappa –
“Joe’s Garage” (1979)
O encontro amoroso entre o esfregão e o Zappa versão
negra antecipou em três décadas a máxima do “o tosco é o novo cool” de Marcelo
Adnet...
6-Otto – “Condom
Black” (2001)
...e inspirou Otto
5-Peter Gabriel – “Plays
Live” (1983)
Para quem passara uma década tocando com bizarras máscaras
à frente do Genesis – sem avisar os companheiros de banda -, até que a versão
maquiada do Gabriel solo era bem light.
4-The Art Ensemble
of Chicago – “Chi Congo” (1970)
Meda? Espere até escutar os solos coletivos de metais
e percussão que ocupam esta radical meia hora de free jazz.
3-Caetano Veloso –
“Muitos Carnavais” (1977)
Fino close em Caê no espírito Samba, Suor e Cerveja,
flagrado por João Castrioto, autor de retratos de outras capas clássicas do
baiano, como a do LP “Qualquer Coisa” (1975).
2-The GO-Go’s –
“Beauty and The Beat” (1981)
Poucas portadas da
new wave – sempre instigante esteticamente - saíram tão boas como esta.
1-David Bowie –
“Aladdin Sane” (1973)
Não só Harry Potter – em série criada pelo site Next Movie - parodiou
a imagem do então novo personagem criado por Bowie, uma evolução do famoso
Ziggy Stardust. O inconfundível raio azul e vermelho foi parar também na face
de Hommer Simpson e, em sua versão original, pode ser encontrado em capas de
celular, bonecos e até em uma camiseta no guarda-roupa da Sarah Jessica Parker.
O que seria dos Jogos Olímpicos sem o ímpeto acrobático de certos seres
humanos? Saberíamos quem foram Saïd
Aouita, Elena
Shushunova, João do Pulo?
O mesmo ocorre em algumas clássicas capas de disco marcadas por
estripulias corporais dos próprios artistas. Não tivessem eles se aventurado em
posições e ângulos tão inusitados, estas portadas
seguramente não entrariam para a história como
de fato fizeram. Ou pelo menos para mim.
Enquanto espera a edição londrina
do megaevento esportivo, a começar no próximo dia 27, o Mala da Lista alonga a
panturrilha em prevenção à poltronite aguda, flexiona o antebraço contra
luxações em abertura de geladeira e medita sobre o assunto.
O resultado começa por aqui, as 10 melhores capas de álbuns acrobáticas
estreladas pelos autores. (Quem quiser conhecer o Top 5 capas com os que, de fato, pousaram fazendo esporte, que clique aqui).
10-The Isley Brothers – “Shout!” (1959)
É bom saber que nem todo músico quebra espinha saltando e dobrando as
pernas assim.
9-Moby – “Play” (1999)
Trata-se na verdade de um flashforward do popstar eletrônico recebendo
notícia de que a bolacha rendera disco de platina em mais de 20 países.
8-Vanusa – “Vanusa” (1969)
Ela é pura vanguarda. Muitíssimo antes de oferecer à pátria releituras no
wave do Hino Nacional, se aventurava na ginástica rítmica com fitas.
7-Jackie Wilson
– “He’s So Fine” (1958)
Para quem, há mais de meio século,
ordenava às massas “Baby Workout”, até que os
movimentos de Jackie aqui são suaves. O fã Michael Jackson lhe chupinaria a
maioria dos passos.
6-Massarock – “Massarock” (2010)
Artes marciais e dub são possivelmente as atividades mais antagônicas
que alguém possa realizar simultaneamente. Ou não, como sugere esta jamaico-paulistana.
5-Sly & the Family Stone – “Fresh” (1973)
Ainda na mesma pegada, contemplemos o voo do insano Sly rumo ao
ambulatório. A combinação é batata: funk, kung fu e sapatos de plataformas.
4-Fishbone – “Fishbone” (EP – 1985)
Compartir um pardieiro com Angelo Moore, Walter “Dog King of The Freaks”
A. Kibby II e companhia na Los Angeles
das gangues, em meados dos anos 1980, não era das experiências mais
recomendáveis para não-atletas.
3-Madness – “One Step Beyond” (1979)
Igualmente complicado era ser um destes londrinos. E com a obrigação de
se desdobrar sempre trajando terninho.
2-Fugazi – “Fugazi” (EP – 1988)
Os fãs de Fugazi, que são como uma seita,
ainda sonham com os shows da cultuada banda de WashingtonD.C..
Afinal, não raro terminavam assim.
1-Grace Jones – “Island Life” (coletânea oficial - 1985)
Não basta antecipar a Mulata Globeleza em uma década. É preciso fazê-lo
em uma perna só.